quarta-feira, 27 de março de 2013

Currículo Escolar e Currículo Oculto




Entre as várias conceituações existentes sobre currículo escolar, entende-se currículo como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio as relações sociais, e que contribuem para as construções das identidades de nossos estudantes, incluído neste contexto o currículo oculto. Assim, na elaboração do currículo a Escola precisa atentar-se para as fontes de currículo oferecidas pelo contexto da qual faz parte, de natureza sócio-cultural, epistemológica e psicopedagógica, de acordo com o modelo de homem e de sociedade que quer formar, constituindo-se em um guia para os educadores, um instrumento para orientar a prática pedagógica, uma ajuda ao professor, podendo ser entendido como uma prática sustentada pela reflexão enquanto práxis. Não apenas como um plano que é preciso cumprir, se constrói através de uma interação entre o refletir e o atuar, dentro de um processo curricular que compreende o planejamento. Dessa forma, o currículo tem como função explicitar o projeto pedagógico da Escola, as intenções e o plano de ação que preside as atividades educativas escolares, com a finalidade de possibilitar o crescimento dos aprendizes.
   Portanto, a respeito da transposição dos conhecimentos construídos socialmente pela humanidade (culturais, científicos, artísticos...) para o conhecimento ou o conteúdo escolar, Saviani discorre que:
 ...o que não é produzido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos homens, e aí se incluem os próprios homens. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens. Assim o objeto da Educação diz respeito, a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que se tornem humanos, e de outro lado, concomitantemente, a descoberta de formas mais adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 2008, p.11-22)

Portanto, é muito preocupante quando analisando a prática educativa de Escolas que conhecemos nos deparamos com uma prática pedagógica muito superficial, preocupada apenas em cumprir os conteúdos, sem levar em conta os aspectos subjetivos que compõe a formação do educando, os quais fazem parte do currículo oculto, que deveriam ser inseridos também na prática pedagógica.
Ao invés de se trabalhar a formação integral do aluno, o contexto destas escolas é permeado de práticas excluidoras, segregadoras e estigmatizantes, onde os estereótipos são marcados e avaliados não por sua produtividade no contexto escolar, mas por seus rótulos, que irão lhes acompanhar ao longo de sua vida estudantil.
Um exemplo, bem claro, que é muito comum na sala de aula, refere-se aos alunos que apresentam comportamentos agressivos, que os professores preferem jogar a responsabilidade para cima da família, coordenadores pedagógicos e direção da Escola. Exime-se da responsabilidade de trabalhar com seus alunos o problema, deixando assim de trabalhar o conteúdo oculto tão importante para a formação integral deste aluno.
Porém, temos também, aquele professor que demonstra compromisso com os seus formandos, que na sua prática educativa, percebe-se claramente a presença do currículo oculto, geralmente são os professores mais benquistos pelos alunos na Escola. Suas aulas são interessantes, dinâmicas e diversificadas e seus alunos são os mais participativos, pois quando o aluno percebe o interesse, respeito e amizade do professor, devolve isso através de mais participação, interesse e produtividade nas aulas.
Portanto, um currículo deve levar em conta o contexto, as dificuldades, mas principalmente, o potencial que as crianças, jovens e adultos trazem consigo. Deve ser humanizante (que humanize e possa humanizar), necessita que seus autores sejam coerentes com seus discursos, devendo ser construído a partir de diretrizes que valorizem a subjetividade inerente ao ser humano.


REFERÊNCIAS

SAVIANI, Dermeval. Sobre a Natureza e Especificidade da Educação. 10ª ed. Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.