Eles trazem a vida real para a
sala de aula, envolvem mais as crianças nas atividades e, com alguns conteúdos,
são a melhor forma de trabalhar. Porém, ainda geram muitas dúvidas.
Projeto didático é
um tipo de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos que envolvem uma
situação- problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos
devem aprender) e propósitos
sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma
exposição, que vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo
às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna a
garotada corresponsável pela própria aprendizagem.
Todo
projeto precisa ser interdisciplinar?
Não. Um projeto
focado em apenas uma área tem grande valor, já que permite um mergulho mais
profundo no conteúdo trabalhado. Embora, às vezes, pareça
que objetivos de disciplinas diferentes estejam coordenados numa mesma
proposta, muitas vezes só os relacionados a uma delas estão sendo
desenvolvidos. Num cenário ainda pior - e também comum -, não são trabalhados
de forma correta os conteúdos de nenhuma das áreas.
Um bom projeto é aquele que
indica intenções claras de ensino e permite novas aprendizagens relacionadas a
todas as disciplinas envolvidas. "Não é raro a turma apenas utilizar
conhecimentos que já possui", explica Maria Alice Junqueira.
Veja
o exemplo de um projeto de Ciências que tem como objetivo ensinar procedimentos
de pesquisa. Se os alunos tiverem de produzir um relatório e já forem
experientes na escrita desse gênero, não é possível dizer que ele envolve a
disciplina de Língua Portuguesa - afinal, eles só estão colocando em jogo o que
sabem. Isso vai efetivamente ocorrer se a tarefa for produzir um artigo
científico e esse tipo de texto for novo para todos.
Já quando é definido um tema gerador, como meio ambiente, cabe ao professor
escolher quais serão os conteúdos a enfocar e os objetivos a alcançar. O
problema, nesse caso, é organizar as atividades em cima de um tema considerado
envolvente pelos alunos, em vez de fazer um planejamento baseado nas reais
necessidades de aprendizagem deles.
Quando optar por um
projeto?
Alguns
conteúdos curriculares permitem (e às vezes pedem) um trabalho aprofundado e
que inclua as práticas sociais relacionadas a ele.
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PROJETO
DIDÁTICO?
Os
projetos podem ser planejados e organizados de inúmeras formas, porém algumas
ações são fundamentais:
1. Tema: delimitar e conhecer bem o assunto que será estudado e
pesquisá-lo previamente.
2. Objetivos: escolher uma meta de aprendizagem principal e outras
secundárias que atendam às necessidades de aprendizagem
3. Conteúdos: ter clareza do que as crianças conhecem e desconhecem
sobre o tema e o conteúdo do trabalho.
4. Tempo estimado: construir um cronograma com prazos para cada
atividade, delimitando a duração total do trabalho.
5. Material necessário: selecionar previamente os recursos e materiais
que serão usados, como sites e livros de consulta.
6. Apresentação da proposta: deixar claro para a sala os objetivos
sociais do trabalho e quais os próximos passos.
7. Planejamento das etapas: relacionar uma etapa à outra, em uma
complexidade crescente.
8. Encaminhamentos: antecipar quais serão as perguntas que você fará
para encaminhar a atividade.
9. Agrupamentos: prever quais momentos serão em grupo, em duplas e
individuais.
10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas
versões do trabalho, caso perceba uma baixa produtividade.
11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade
aos processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.
12. Avaliação: prever os critérios de avaliação e registrar a participação
de cada um ao longo do trabalho.
Como
avaliar os estudantes?
No caso dos projetos, são três os eixos de aprendizagem
que podem ser considerados na avaliação:
- o
conteúdo;
- o aprofundamento no tema;
- a aproximação com a prática social relacionada ao produto final.
As respostas dadas pelos
alunos ao longo do processo dão pistas sobre o que já foi compreendido e no que
ainda é preciso avançar, assim como os momentos de sistematização dos conteúdos
- quando a turma define com suas palavras os conceitos estudados. Para Delia
Lerner, o processo permite diminuir a incerteza do professor e do aluno porque
nele se passam a limpo os conteúdos ensinados e aprendidos. Outra boa
estratégia é, no fim de cada atividade, fazer uma análise das produções, que
funcionam como um retrato da aprendizagem até aquele ponto. O conjunto delas
pode revelar os avanços e os problemas enfrentados por cada um. Da mesma
maneira, o produto final, em suas sucessivas versões, também mostra o percurso
pelo qual o aluno passou.
Os projetos possibilitam ainda uma avaliação do trabalho do professor e indicam
em que pontos sua condução precisa ser ajustada. Um meio de fazer isso é pensar
nos objetivos de ensino e nas condições didáticas oferecidas. A análise das
produções realizadas e das respostas dadas pelos estudantes no desenvolvimento
do projeto também pode ser vista sob a ótica do ensino. Algumas questões que
norteiam as análises: a forma de conduzir o trabalho foi adequada? Foram feitas
intervenções sempre que necessário? As atividades responderam ao objetivo de
cada etapa? Os materiais usados foram adequados? O tempo previsto foi
suficiente? Esse tipo de reflexão tem uma importância formativa única para o
professor e pode impactar positivamente a prática cotidiana.
Fonte: Revista Nova Escola.