terça-feira, 22 de outubro de 2013

A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA PARA A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO






A produção do conhecimento é uma consequência decorrente da pesquisa. Ao se colocar a pesquisa como condição (responsabilidade) indispensável da prática docente, a consequência  decorrente é que a pesquisa, tanto para o docente quanto para o discente, torna-se um princípio educativo referencial, uma vez que o professor não educa apenas através de palavras, mas também pela postura revelada em suas atitudes ou no conjunto de suas ações. Esta coerência repercutirá no aluno que, por sua vez, se interpelará a respeito de querer ou não se tornar um sujeito crítico, criativo e conquistar sua autonomia intelectual. 
À medida que o professor insere estas marcas no seu trabalho, ele abre possibilidades significativas para a superação de práticas alienadas e alienantes como a pura cópia, a imitação cega e submissa, enfim, a reles reprodução. Isso significa que o trabalho docente em sala de aula deve ser realizado de tal modo que o questionamento, a dúvida e a incerteza devem ser não só aceitos, como também fomentados. Pode-se afirmar que, se de um lado, nunca tivemos tanto conhecimento, tantas respostas prontas, fáceis e acessíveis sobre as questões que nos afligem, de outro, nunca tivemos tanta alienação, ingenuidade e apatia.
 Estabelecer a pesquisa como princípio educativo significa privilegiar a construção e re-construção do conhecimento como processo central do ato educativo. Isso traz implicações e responsabilidades como: a) aguçar a capacidade de questionamento do aluno; b) fazer com que o aluno saiba identificar as fontes de informação e conhecimento que podem ser utilizadas para levar o processo de pesquisa a bom termo (bibliotecas, acervos culturais, museus, internet etc); c) estimular a capacidade de seleção e manuseio das informações coletadas; d) incentivar o trabalho com o uso da tecnologia disponível; e) possibilitar o estabelecimento de uma postura de trabalho (habitus) no tratamento metodológico das questões. 
Se observarmos, estes pontos todos parecem estar implícitos já (desde sempre) naquilo que se faz no cotidiano escolar. Infelizmente, apenas “parecem” estar presentes, mas, de fato, não estão. Precisa-se deste modo, a reflexão sobre estes pontos para o estabelecimento de uma nova práxis docente e discente. 
(Revista Espaço Acadêmico, Nº 35/Abril/2004)

CONTEUDOS TRABALHADOS E SABERES NECESSÁRIOS





Percebe-se na atual conjuntura educacional, uma total falta de articulação entre os conteúdos que são trabalhados e a real necessidade do que o aluno deve aprender, levando em consideração o que vai ser cobrado depois nas avaliações externas a que os alunos serão submetidos, como por exemplo, a provinha Brasil e a Prova Brasil, que por sinal estará acontecendo este ano. Não há uma consonância das propostas educacionais nacionais, com a forma como os conteúdos são organizados nas escolas, de forma que o que está sendo ensinado acaba tornando-se obsoleto e o que deveria ser ensinado fica entre os conteúdos que nunca são trabalhados série após serie, devido a falta de tempo no cumprimento dos conteúdos e por alguns profissionais acharem que estes não são relevantes para a formação do aluno.
Essa situação fica mais evidente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, como por exemplo, na disciplina de Matemática, onde conceitos básicos de geometria, fração, porcentagem e outros são deixados de lado, pois os alunos passam o ano todo fazendo continhas vazias e abstratas de números aleatórios das quatro operações, em uma fase em que deveriam estar trabalhando com o concreto, jogos e resolução de problemas a fim de apreender e compreender os conceitos matemáticos, desenvolvendo o seu raciocínio lógico. Vale ressaltar que se forem analisadas as questões da prova Brasil, são justamente esses conteúdos que não foram trabalhados que vão compor a maioria das questões propostas.
A meu ver, esse velho discurso,  repetido todo inicio de ano por alguns docentes:” Eles não sabem tabuada, vou trabalhar só em cima das quatros operações, pois precisam aprender a calcular...” e que geralmente é executado, tem que ser abolido das escolas. O que vem acontecendo na verdade, ano após ano, nas séries iniciais, é que o aluno vem sendo tolhido do seu direito de aprender de forma ampla, condenado a repetir dia após dia, a tabuada de forma repetitiva, sem nenhum aprendizado significativo.  Isso explica o baixo rendimento no 6º Ano e os altos índices de evasão e repetência, quando este aluno deveria estar colocando em prática, vários dos conceitos que deixou de aprender nas séries iniciais.
A minha sugestão é que se faça uma grande discussão, levando todos esses aspectos em consideração, a fim de reorganizar o conteúdo programático,  de forma que esse círculo vicioso não se mantenha em nossas escolas e nossos alunos possam usufruir de forma plena do seu direito de aprender.

A Escola como Contexto Favorável ao Desenvolvimento Humano.






Atualmente, a educação escolar deve se delineada a partir de um currículo que esteja articulado com os saberes necessários para o processo de humanização dos discentes, a qual combinada com a interação das crianças com os adultos nos contextos diversos que a criança interage na sua Comunidade, trará notórios progressos no processo humanizante dos discentes. Vale ressaltar que essa interação requer do adulto uma preocupação constante com sua postura frente a criança, uma vez que esse processo de humanização hoje, não acontece somente no contexto escolar, mas principalmente, no convívio com os adultos. Assim, os adultos devem aproveitar o tempo disponível de interação com as crianças para ensinar algo que possa contribuir com a sua construção do conhecimento. 
Na Escola, o discente aprende os conhecimentos sistematizados, desenvolve competências e habilidades que devem ser aplicados na sua vida cotidiana, onde por sua vez, interage com pessoas de várias idades e contextos diferentes, dando-lhe oportunidades de extrair desta interação conhecimentos que não são aprendidos na Escola. No entanto, a Escola deve organizar-se a estar apta a oferecer a este educando, uma relação mais profunda, tanto na abordagem dos conteúdos que devem ser contextualizados, quando nas relações interpessoais no contexto escolar, pois para que este aluno aprenda, ele precisa confiar e para confiar, tem que haver envolvimento emocional entre as partes. Pois se percebe em alguns contextos escolares, uma relação muito superficial, restrita e impessoal entre docentes e alunos.
Percebe-se que quando há este envolvimento, consequentemente o adulto seja professor ou não, realmente se preocupa com o desenvolvimento efetivo das crianças. Portanto, o currículo escolar deve ser pensado, levando em consideração de forma a desenvolver neste aluno, todo o legado humano que vem sendo construído ao longo do tempo, seja cultural, cognitivo e emocional, de forma com que a Escola se torne cada vez mais favorável ao desenvolvimento humano.

PROJETOS INTERDISCIPLINARES






Eles trazem a vida real para a sala de aula, envolvem mais as crianças nas atividades e, com alguns conteúdos, são a melhor forma de trabalhar. Porém, ainda geram muitas dúvidas.


Projeto didático é um tipo de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos que envolvem uma situação- problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna a garotada corresponsável pela própria aprendizagem.


Todo projeto precisa ser interdisciplinar?


Não. Um projeto focado em apenas uma área tem grande valor, já que permite um mergulho mais profundo no conteúdo trabalhado. Embora, às vezes, pareça que objetivos de disciplinas diferentes estejam coordenados numa mesma proposta, muitas vezes só os relacionados a uma delas estão sendo desenvolvidos. Num cenário ainda pior - e também comum -, não são trabalhados de forma correta os conteúdos de nenhuma das áreas.

Um bom projeto é aquele que indica intenções claras de ensino e permite novas aprendizagens relacionadas a todas as disciplinas envolvidas. "Não é raro a turma apenas utilizar conhecimentos que já possui", explica Maria Alice Junqueira.

Veja o exemplo de um projeto de Ciências que tem como objetivo ensinar procedimentos de pesquisa. Se os alunos tiverem de produzir um relatório e já forem experientes na escrita desse gênero, não é possível dizer que ele envolve a disciplina de Língua Portuguesa - afinal, eles só estão colocando em jogo o que sabem. Isso vai efetivamente ocorrer se a tarefa for produzir um artigo científico e esse tipo de texto for novo para todos.
Já quando é definido um tema gerador, como meio ambiente, cabe ao professor escolher quais serão os conteúdos a enfocar e os objetivos a alcançar. O problema, nesse caso, é organizar as atividades em cima de um tema considerado envolvente pelos alunos, em vez de fazer um planejamento baseado nas reais necessidades de aprendizagem deles.

Quando optar por um projeto?

Alguns conteúdos curriculares permitem (e às vezes pedem) um trabalho aprofundado e que inclua as práticas sociais relacionadas a ele. 


QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PROJETO DIDÁTICO?


Os projetos podem ser planejados e organizados de inúmeras formas, porém algumas ações são fundamentais:

1. Tema: delimitar e conhecer bem o assunto que será estudado e pesquisá-lo previamente.

2. Objetivos: escolher uma meta de aprendizagem principal e outras secundárias que atendam às necessidades de aprendizagem

3. Conteúdos: ter clareza do que as crianças conhecem e desconhecem sobre o tema e o conteúdo do trabalho.

4. Tempo estimado: construir um cronograma com prazos para cada atividade, delimitando a duração total do trabalho.

5. Material necessário: selecionar previamente os recursos e materiais que serão usados, como sites e livros de consulta.

6. Apresentação da proposta: deixar claro para a sala os objetivos sociais do trabalho e quais os próximos passos.

7. Planejamento das etapas: relacionar uma etapa à outra, em uma complexidade crescente.

8. Encaminhamentos: antecipar quais serão as perguntas que você fará para encaminhar a atividade.

9. Agrupamentos: prever quais momentos serão em grupo, em duplas e individuais.

10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas versões do trabalho, caso perceba uma baixa produtividade.

11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade aos processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.

12. Avaliação: prever os critérios de avaliação e registrar a participação de cada um ao longo do trabalho.

 

 Como avaliar os estudantes?
 
No caso dos projetos, são três os eixos de aprendizagem que podem ser considerados na avaliação:
- o conteúdo;
- o aprofundamento no tema;
- a aproximação com a prática social relacionada ao produto final.


As respostas dadas pelos alunos ao longo do processo dão pistas sobre o que já foi compreendido e no que ainda é preciso avançar, assim como os momentos de sistematização dos conteúdos - quando a turma define com suas palavras os conceitos estudados. Para Delia Lerner, o processo permite diminuir a incerteza do professor e do aluno porque nele se passam a limpo os conteúdos ensinados e aprendidos. Outra boa estratégia é, no fim de cada atividade, fazer uma análise das produções, que funcionam como um retrato da aprendizagem até aquele ponto. O conjunto delas pode revelar os avanços e os problemas enfrentados por cada um. Da mesma maneira, o produto final, em suas sucessivas versões, também mostra o percurso pelo qual o aluno passou.
Os projetos possibilitam ainda uma avaliação do trabalho do professor e indicam em que pontos sua condução precisa ser ajustada. Um meio de fazer isso é pensar nos objetivos de ensino e nas condições didáticas oferecidas. A análise das produções realizadas e das respostas dadas pelos estudantes no desenvolvimento do projeto também pode ser vista sob a ótica do ensino. Algumas questões que norteiam as análises: a forma de conduzir o trabalho foi adequada? Foram feitas intervenções sempre que necessário? As atividades responderam ao objetivo de cada etapa? Os materiais usados foram adequados? O tempo previsto foi suficiente? Esse tipo de reflexão tem uma importância formativa única para o professor e pode impactar positivamente a prática cotidiana.
 Fonte: Revista Nova Escola.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Currículo Escolar e Currículo Oculto




Entre as várias conceituações existentes sobre currículo escolar, entende-se currículo como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio as relações sociais, e que contribuem para as construções das identidades de nossos estudantes, incluído neste contexto o currículo oculto. Assim, na elaboração do currículo a Escola precisa atentar-se para as fontes de currículo oferecidas pelo contexto da qual faz parte, de natureza sócio-cultural, epistemológica e psicopedagógica, de acordo com o modelo de homem e de sociedade que quer formar, constituindo-se em um guia para os educadores, um instrumento para orientar a prática pedagógica, uma ajuda ao professor, podendo ser entendido como uma prática sustentada pela reflexão enquanto práxis. Não apenas como um plano que é preciso cumprir, se constrói através de uma interação entre o refletir e o atuar, dentro de um processo curricular que compreende o planejamento. Dessa forma, o currículo tem como função explicitar o projeto pedagógico da Escola, as intenções e o plano de ação que preside as atividades educativas escolares, com a finalidade de possibilitar o crescimento dos aprendizes.
   Portanto, a respeito da transposição dos conhecimentos construídos socialmente pela humanidade (culturais, científicos, artísticos...) para o conhecimento ou o conteúdo escolar, Saviani discorre que:
 ...o que não é produzido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos homens, e aí se incluem os próprios homens. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens. Assim o objeto da Educação diz respeito, a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que se tornem humanos, e de outro lado, concomitantemente, a descoberta de formas mais adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 2008, p.11-22)

Portanto, é muito preocupante quando analisando a prática educativa de Escolas que conhecemos nos deparamos com uma prática pedagógica muito superficial, preocupada apenas em cumprir os conteúdos, sem levar em conta os aspectos subjetivos que compõe a formação do educando, os quais fazem parte do currículo oculto, que deveriam ser inseridos também na prática pedagógica.
Ao invés de se trabalhar a formação integral do aluno, o contexto destas escolas é permeado de práticas excluidoras, segregadoras e estigmatizantes, onde os estereótipos são marcados e avaliados não por sua produtividade no contexto escolar, mas por seus rótulos, que irão lhes acompanhar ao longo de sua vida estudantil.
Um exemplo, bem claro, que é muito comum na sala de aula, refere-se aos alunos que apresentam comportamentos agressivos, que os professores preferem jogar a responsabilidade para cima da família, coordenadores pedagógicos e direção da Escola. Exime-se da responsabilidade de trabalhar com seus alunos o problema, deixando assim de trabalhar o conteúdo oculto tão importante para a formação integral deste aluno.
Porém, temos também, aquele professor que demonstra compromisso com os seus formandos, que na sua prática educativa, percebe-se claramente a presença do currículo oculto, geralmente são os professores mais benquistos pelos alunos na Escola. Suas aulas são interessantes, dinâmicas e diversificadas e seus alunos são os mais participativos, pois quando o aluno percebe o interesse, respeito e amizade do professor, devolve isso através de mais participação, interesse e produtividade nas aulas.
Portanto, um currículo deve levar em conta o contexto, as dificuldades, mas principalmente, o potencial que as crianças, jovens e adultos trazem consigo. Deve ser humanizante (que humanize e possa humanizar), necessita que seus autores sejam coerentes com seus discursos, devendo ser construído a partir de diretrizes que valorizem a subjetividade inerente ao ser humano.


REFERÊNCIAS

SAVIANI, Dermeval. Sobre a Natureza e Especificidade da Educação. 10ª ed. Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.