Entre
as várias conceituações existentes sobre currículo escolar, entende-se currículo como
as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio as relações sociais, e que contribuem para as
construções das identidades de nossos estudantes, incluído neste contexto o
currículo oculto. Assim, na elaboração do currículo a Escola precisa atentar-se
para as fontes de currículo oferecidas pelo contexto da qual faz parte, de
natureza sócio-cultural, epistemológica e psicopedagógica, de acordo com o
modelo de homem e de sociedade que quer formar, constituindo-se em um guia para
os educadores, um instrumento para orientar a prática pedagógica, uma ajuda ao
professor, podendo ser entendido como uma prática sustentada pela reflexão
enquanto práxis. Não apenas como um plano que é preciso cumprir, se constrói
através de uma interação entre o refletir e o atuar, dentro de um processo
curricular que compreende o planejamento. Dessa forma, o currículo tem como
função explicitar o projeto pedagógico da Escola, as intenções e o plano de
ação que preside as atividades educativas escolares, com a finalidade de
possibilitar o crescimento dos aprendizes.
Portanto, a respeito da
transposição dos conhecimentos construídos socialmente pela humanidade
(culturais, científicos, artísticos...) para o conhecimento ou o conteúdo
escolar, Saviani discorre que:
...o que não é produzido pela natureza tem que
ser produzido historicamente pelos homens, e aí se incluem os próprios homens.
Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente,
em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e
coletivamente pelo conjunto de homens. Assim o objeto da Educação diz respeito,
a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos
indivíduos da espécie humana para que se tornem humanos, e de outro lado,
concomitantemente, a descoberta de formas mais adequadas para atingir esse
objetivo. (SAVIANI, 2008, p.11-22)
Portanto, é muito
preocupante quando analisando a prática educativa de Escolas que conhecemos nos
deparamos com uma prática pedagógica muito superficial, preocupada apenas em
cumprir os conteúdos, sem levar em conta os aspectos subjetivos que compõe a
formação do educando, os quais fazem parte do currículo oculto, que deveriam
ser inseridos também na prática pedagógica.
Ao invés de se trabalhar a
formação integral do aluno, o contexto destas escolas é permeado de práticas excluidoras,
segregadoras e estigmatizantes, onde os estereótipos são marcados e avaliados
não por sua produtividade no contexto escolar, mas por seus rótulos, que irão
lhes acompanhar ao longo de sua vida estudantil.
Um exemplo, bem claro, que é
muito comum na sala de aula, refere-se aos alunos que apresentam comportamentos
agressivos, que os professores preferem jogar a responsabilidade para cima da
família, coordenadores pedagógicos e direção da Escola. Exime-se da
responsabilidade de trabalhar com seus alunos o problema, deixando assim de
trabalhar o conteúdo oculto tão importante para a formação integral deste
aluno.
Porém, temos também, aquele
professor que demonstra compromisso com os seus formandos, que na sua prática
educativa, percebe-se claramente a presença do currículo oculto, geralmente são
os professores mais benquistos pelos alunos na Escola. Suas aulas são
interessantes, dinâmicas e diversificadas e seus alunos são os mais
participativos, pois quando o aluno percebe o interesse, respeito e amizade do
professor, devolve isso através de mais participação, interesse e produtividade
nas aulas.
Portanto, um currículo deve
levar em conta o contexto, as dificuldades, mas principalmente, o potencial que
as crianças, jovens e adultos trazem consigo. Deve ser humanizante (que
humanize e possa humanizar), necessita que seus autores sejam coerentes com
seus discursos, devendo ser construído a partir de diretrizes que valorizem a
subjetividade inerente ao ser humano.
REFERÊNCIAS
SAVIANI, Dermeval. Sobre a Natureza e Especificidade da Educação. 10ª ed. Pedagogia Histórico-Crítica.
Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
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